"O desejo feminino de dominar e domesticar (principalmente os homens mas não só) não é algo de que as mulheres se devam orgulhar. De uma maneira ou de outra, todas queremos mudar os homens da nossa vida. Será que queremos apenas desencorajar maus hábitos ou exercitar ao máximo o nosso músculo controlador? Estamos a pôr em prática a tentativa (inglória) de atingira perfeição e melhorar a espécie? Olhando para trás, até me assusto com as vezes que o tentei fazer. E o pior é que me irritam profundamente as mulheres que dissecam os seus encontros amorosos falhados com a mesma precisão forense com que inspeccionam um vestido caro quando o experimentam no provador de uma loja (no fundo ambas as coisas têm a ver com os que lhes fica bem!), mas tenho de reconhecer que eu e as minhas amigas não éramos muito diferentes, "Até era capaz de andar com X se ele nao fosse Y", dizíamos nós. E as reclamações oscilavam entre o razoável (muitas vezes desejei que os meus namorados fossem mais cultos, tivessem melhor gosto musical ou que fossem mais simpaticos com as minhas amigas) e o absurdamente superficial (gostava que ele fosse ao ginásio, que usasse jeans de uma boa marca ou que tivesse mais cabelo). Na altura, esses critérios pareciam-me aceitáveis mas, na verdade, eram exigências infantis, inspiradas no eterno mito do Príncipe Encantado.Os contos de fadas e a literatura são, em parte, os culpados das nossas elevadas expectativas. Adão foi contra os seus instintos por amor a Eva. Marco António ficou no Egipto, deixando para trás todo o seu império, por Cleópatra. E Mr. Darcy mudou de personalidade para poder ficar com Elizabeth Bennet no livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. A mensagem é: se um homem nos ama, tem de se transformar na fantasia que nós queremos. O cinema cimenta este conceito. Edward Lewis (Richard Gere) é um morto-vivo até Vivian Ward (Julia Roberts ) o ensinar a andar descalço na relva no filme Pretty Woman. Jerry Maguire( Tom Cruise) é um ser humano desinteressante até Dorothy(Reneé Zelweger) o "completar". E este conceito, no fundo tão simples, tem exemplos concretos na vida real: Warren Beatty era mulherengo imparável até conhecer Annette Bening (com quem vive há anos). Brad Pitt era um menino bonito centrado em si próprio até Angelina Jolie o transformar num super-pai com preocupações humanitárias. Johnny Deep mudou-se de Hollywood para Paris quando se apaixonou por Vanessa Paradis e Russel Brand - o homem que afirmava dormir com mais de 80 mulheres por mês - admite ter sido domesticado por Katy Perry.
E então? As relações mudam-nos, não? A grande diferença é que os homens, quer seja no início de um relacionamento ou passados alguns anos, não se sentam com os amigos a beber cerveja e a discutir as falhas das muheres. "Se me perguntassem o que mudaria na minha namorada", diz me um amigo, "eu teria grande dificuldade em responder.Não é que eu ache que ela é perfeita mas não lhe consigo apontar-lhe defeitos". Apontar defeitos é o que as mulheres fazem melhor. Pomos as nossas belas cabeças de lado e analisamos os nossos potenciais namorados, como se fossem uma propriedade que vamos comprar ou uma salada que vamos pedir (era exelente se não tivesse anchovas). Isto porque " Os homens e as mulheres embarcam nas relações de formas diferentes", afirma o psicólogo Oliver James, autor de How Not to Fuck Them Up. " Mesmo numa fase inicial da relação, as mulheres são mais objectivas em relação aos defeitos dos homens do que eles são em relação aos delas. Elas começam logo a desenhar o homem que querem que ele seja nas suas cabeças". Os homens, por outro lado, tendem a ver - e aceitar - o pacote todo.
É quando se começa a viver debaixo do mesmo tecto que pequenas coisas que nos pareciam tão atraentes se tornam profundamente irritantes. É aí que O Projecto - como lhe chama uma amiga minha - começa a dar problemas. Já ouvi histórias incríveis: uma amiga que "perdeu" todas as roupas horríveis do namorado e substituiuas por novas - ela é da opinião que a forma como o nosso namorado se veste diz muito sobre nós próprias. Uma vez doei para a caridade umas calças velhas do meu ex-namorado. Lembro-me bem do ar magoado dele enquanto me acusava de estar a fazer "pura engenharia social".Tinha razão.
Quando se trata de ensinar o nosso namorado a ter estilo, tenho de concordar com a comediante Roseanne Barr: "Um homem decente não surge do nada. Tem de ser criado por uma mulher. Os homens são uma massa para moldar, como aquela de que se fazem os donuts". Os impulsos femininos sendo primordialmente maternais, são benéficos. Preocupamo-nos com a saúde deles, queremos que se sintam melhor com eles próprios e, como somos socialmente mais sensíveis, estamos mais atentas a pequenos tiques pessoais que, depois de atenuados, os tornam melhor companhia. Desde que as mudanças sejam apresentadas como sugestões suaves que os homens possam achar que são ideias suas ( em vez de transformações draconianas), eles aceitam-nas.
A jornalista norte-americana Amy Sutherland teve uma epifania enquanto via um documetário sobre a vida animal. "Não se consegue que um leão-marinho equilibre uma bola no nariz com ralhetes", escreve ela no seu bestseller What Shamu Taught Me About Life, Love and Marriage. "O mesmo se passa com um marido. Comecei a agradecer ao meu cada vez que ele fazia algo bem.Se fossem duas, beijava-o. Aprendi a usar aquilo que os treinadores chamam de aproximações: pequenos passos que conduzem á aprendizagem de um novo comportamento".
O timing é essencial. Katy Perry não acha que tenha remodelado o homem com quem casou. " Ele estava preparado para mudar. Não passa por domesticar..isso não dura." Talvez seja essa a resposta. Podemos, de facto, mudar um homem..caso ele queira mudar. A longo prazo, os defeitos não fatais são algo com que nos habituamos a viver (e até gostamos). A sábia Marlene Dietrich é que sabia: " A maior parte das mulheres tentam mudar o homem da sua vida. Quando o conseguem, não gostam dele"."
In I'm a Lady
Sem comentários:
Enviar um comentário