Acabei de ler isto, escrito por uma amiga minha. Licenciada em comunicação social, sonhadora, criativa. Sou sua fã numero 1 e não entendo como uma pessoa com ela está desempregada da sua área de formação. Para além disso é consultora de imagem e já falei dela aqui. Dress your soul conhecem?
Estou parado no sinal encarnado, prestes a entrar no frenezim da mãe das cidades, Lisboa. As pessoas passam em frente a mim, atropelam-se com pressa de quem vai trabalhar, passear, encontrar alguém, e eu?
Estou perdido! Não vou trabalhar, não vou passear, nem encontrar ninguém…
Cabelos encaracolados e cor de ouro, dançavam ao sabor do vento, uma gabardina castanha bem apertada e na mão, uma pasta. Eras tu!
À primeira vista, pensei que fosses jornalista, aquela pasta não enganava, ainda por cima na zona onde nos encontrávamos… o Marquês de Pombal.
Estavas com ar de quem estava atrasada, com pressa de ir ao encontro de algo. Não deste pela minha presença, mas em contrapartida, eu não me consegui desligar da tua pessoa um segundo. Comecei por imaginar o teu nome… Maria? Amélia? Beatriz? Matilde? Estes foram os primeiros que me vieram ao lobo frontal, afinal eram os nomes que eu mais gostava, e nada mais adequado que esta mulher que me tinha hipnotizado sem saber, possuísse um destes quatro nomes. Começas a correr na longa passadeira, as levam-te para longe da minha vista, deixo de te ver… Ergo a cabeça na tentativa de te observar uma ultima vez, mas já tinhas sumido do meu horizonte. Fechei os olhos, e tentei guardar-te nos directórios dos ficheiros do meu cérebro. Instintivamente procurei imagens e fiz força para te guardar no meu pensamento. Como era possível? Eu não acreditava em Amor à primeira vista, mas o que aconteceu, foi que tu não me saíste do pensamento.
O semáforo caiu para verde, mas eu… continuava embevecido nos teus cabelos dourados, na leveza do teu andar e na inocência do teu sorriso… Os carros começaram a apitar-me para que andasse e eu estava literalmente noutra qualquer dimensão, que não a que eu deveria estar naquele momento. Pus primeira e arranquei. Aquela musica que ouvia naquele momento também não ajudava, parecia que tudo se enquadrava ao momento. Tu, a música de nome Heartbeats (Bater de coração), e ele batia a mil à hora naquele preciso momento. Parei o carro, estacionei-o, paguei o exagerado parquímetro. Mais uma moeda para pagar a gulosos, mas paguei, gosto de cumprir os meus deveres de cidadão, não é que este seja um deles, mas também, entre pagar ou ser multado, prefiro pagar. Comodismo talvez!
Não vos falei de mim, sou desempregado. Aliás sou enfermeiro, mas com tantos por ai, eu sou mais um daqueles que não arranjou o que fazer, e ainda sonha com a primeira oportunidade. Ainda me lembro dos meus pais, que eram humildes padeiros me dizerem: “Martim, fica com o que é nosso”, mas eu não conseguia, queria mais, tinha outras ambições, e foram elas que me levaram a sair da asa dos meus velhotes, para correr ao encontro dos meus sonhos, das minhas ambições. Ah, antes que me esqueça… Chamo-me Martim, Tim para os amigos.
Horas depois de andar a deambular feito vagabundo pelas ruas de Lisboa, chego a casa. Ponho a chave na ranhura, dou quatro voltas ao trinco e a porta velha e barulhenta dá de si e abre-se para que eu entre em casa. Pouso as chaves, acendo as luzes, e procedo ao ritual do costume… Ligo o computador. O toque do meu telefone avisa-me que tinha uma nova chamada. Ligo 1234, o número das chamadas: “Ahhh ligaste para o Martim dos matrecos, agora ando por ai, e mesmo que estivesse não te ia atender, sou do contra”, que estupidez pensei. Esta mensagem foi posta quando entrei para a faculdade e nunca mais foi mudada, enfim tenho de perder alguns minutos e trocá-la imediatamente. Comecei a pensar se um dia alguém importante me ligasse e ouvisse aquilo… que vergonha! Esperei para ouvir a mensagem…
“Boa tarde Martim Rodrigues, sou João Seabra do gabinete de Recursos Humanos do Hospital Sousa Martins. Gostaríamos que nos contactasse o mais breve possível, ou então que viesse cá amanha às 15h, à entrevista para a vaga de enfermagem! Obrigado.”
A entrevista correu lindamente, e a vaga é minha! Sou enfermeiro, mas todos me diziam para escolher jornalismo, tenho cá uma conversa…
Esfreguei os olhos, queria ter a certeza…
Quando entrava no espaço de observação, olhei para um anjo que estava deitado na maca, eras tu! Tinhas sofrido um grave acidente de viação, e permanecias ali em coma, já há alguns dias. Puxei uma cadeira, sentei-me ao teu lado, e comecei a falar-te de mim. Acho que até gostavas, mas nunca mo disseste. No dia seguinte comprei um bouquet de flores silvestres, tinhas cara de menina do campo, mas ao mesmo tempo de mulher citadina, e resolvi apostar no campo, com aromas a lavanda. Naqueles longos dias, cheguei mesmo a pensar, que a carta de despedimento chegasse até mim. Chegava ao Hospital, tomava café, e corria para o teu quarto. Falava contigo horas a fio, sobre o dia, as notícias, a bola, e nem consegui discernir, que talvez não gostasses de futebol… De todas as mulheres que conheci, tu foste realmente aquela que conhecia tudo soube de mim. Já nos imaginava ao som da música com que te conheci, Heartbeats (Bater de coração), a passear naqueles dias de Inverno numa praia. Os dias começaram a passar…
O tempo não perdoava e continuava a andar. A Terra girava, e eu a amar-te dia e noite. Amava-te como se estivesses comigo, como se eu soubesse que me amavas, como se fizéssemos parte do mesmo coração, da mesma vida…
Passaram-se dias… meses… e eu modificava a olhos vistos. Fazia tudo para te agradar. Comecei a arranjar-me, estava a ficar atraente, sentia-o. As mulheres reparavam em mim, mas eu? - queria estar de cair para o lado quando acordasses. Apaguei aquela mensagem do rei dos matrecos, e troquei pela mensagem sentida de um homem apaixonado – “Ligou para Martim, neste momento estou com a princesa dos meus olhos não posso atender, ligue mais tarde, ou deixe recado”. As mensagens de voz no meu telefone acumulavam a cada dia que passava. Nunca estava em casa, e quando estava, ou dormia, ou tentava arranjar e embelezar o que eu imaginava vir a poder ser o nosso nicho de amor.
Na noite em que tudo aconteceu, já estava deitado. Tinha acabado o meu turno e eu estava completamente de rastos. O telefone tocou uma, duas vezes, até pensei deixar cair para mensagem, mas como já não tinha espaço no atendedor de chamadas resolvi atender… Era do Hospital!
Saltei da cama, vesti-me, agarrei nas chaves de casa e corri para junto de ti. Estavas a fugir de mim, da vida, estavas a ir embora. E eu? Nada podia fazer…
As imagens passavam no meu cérebro a quilómetros por hora. A imagem dos teus cabelos encaracolados e cor de ouro, que dançavam ao sabor do vento no dia em que te conheci não me saiu uma vez durante aqueles largos segundo, que me pareceram horas. Os médicos lutavam por ti, mas tu não davas sinal de resposta, e partiste uma vez mais sem me dizeres ao menos o teu nome… Sabia que te tinham chamado de Amélia, porque estava escrito na tua ficha técnica, durante estes dois anos de estadia no Hospital.
Já passaram cinco anos desde que tu desapareceste uma vez mais da minha vida, mas só hoje tive coragem de passar para papel este sentimento de vazio que às vezes ainda sinto dentro de mim.
Refiz a minha vida, sou pai de uma menina, Amélia, mas mesmo feliz, e embora ame Matilde, a minha mulher, nunca me vou esquecer dos Cabelos encaracolados cor de ouro, que dançavam ao sabor do vento, da gabardina castanha bem apertada e na mão, uma pasta. Nunca me esquecerei de Ti!
Bem, dá-nos um apero quando lemos isto*
ResponderEliminarhttp://ovagoencanto.blogspot.pt/
Obrigada amiga por estas palavras e obrigada a todos que acreditam em mim!
ResponderEliminarObrigada My precious ;)
Mas isto é verídico? Mesmo que não seja é bonito.
ResponderEliminarPodia ser, mas não é ;) Está associado a perda de alguém muito especial na minha vida. Alguém que perdi já há alguns anos e em quem penso quando escrevo os meus contos as minhas estórias ;) Obrigada L
ResponderEliminarGostei bastante de ler, a tua amiga tem bastante jeito! Gosta de ler mais (:
ResponderEliminarHá momentos que nos marcam para sempre, que se agarram a nós.
ResponderEliminarAmei. E que tal, um blog onde nos possas presentear com esta qualidade de criatividade e escrita, desculpa o abuso do pedido.
ResponderEliminarBeijinho