Páginas

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Melhor texto sobre o Amor que já li

O AMOR EM ESTADO PURO

"Ando há mais de vinte anos a escrever sobre o amor e se aprendi alguma coisa durante todo este tempo é que não há regras para a evolução de um caso amoroso. Quando nos interessamos, nos envolvemos e nos deixamos ir naquilo a que chamamos uma história de amor, nunca sabemos o que vai acontecer. Podemos imaginar, desejar e mesmo prever algumas coisas, consoante a essência dos nossos sentimentos e aquilo que conseguimos ler no comportamento do outro em relação a nós. Se tudo correr bem, podemos até construir um presente sólido que nos conduza a um futuro seguro, mas não podemos decidir nem quando nem como será esse futuro, e é esse um dos maiores desafios quando se vive uma história de amor.
Existem casos tórridos intermitentes, amizades coloridas, aventuras escaldantes, atracções fatais e fátuas, amores lentos e suaves, amores rápidos que se esfumam na espuma dos dias, amores fulminantes que duram uma vida, amores instáveis que se aguentam durante décadas, amores que parecem eternos e se desfazem em poucas semanas. Existem amizades que se transformam em grandes histórias de amor e amores que se cristalizam em amizades para a vida. And yet the course of love never did run smooth, escreveu Shakespeare. O amor tem o seu tempo e ritmo próprios e cada história de amor tem a sua alquimia. Querer que o amor opere e cresça dentro de determinados pressupostos de uma forma rígida é meio caminho andado para o fracasso.
A primeira grande questão sobre a qual devemos reflectir é se aquilo que estamos a viver é mesmo uma história de amor, ou apenas uma imitação do amor. Se estamos carentes, se acabámos de sair de uma relação e ainda não arrumámos o coração, se não estamos ou não somos programados para amar, se até gostamos de estar com uma pessoa mas a sua imagem não nos ocupa o espírito quando estamos longe dela, então cuidado, porque podemos ser levados por um equívoco, Tudo isso podem ser aproximações daquilo que desejamos, e todos sabemos que uma coisa é sair-nos a Sorte Grande e outra é calhar-nos o segundo ou terceiro prémios que são a Aproximação.
Amar alguém requer tempo e espaço, mas acima de tudo, requer vontade. E nem sequer é a vontade de amar aquela pessoa em vez de outra; é a vontade de se deixar ir porque o nosso corpo, o nosso coração, as nossas células nervosas decidiram que era aquela pessoa que queriam por perto. No entanto, esta visão do amor não é fatalista. Ainda que o nosso corpo e o nosso coração nos empurrem para alguém, só devemos deixar que isso aconteça se o outro mostrar o mesmo impulso em relação a nós. Caso contrário, arriscamo-nos a dar tempo e espaço a quem não tem tempo nem espaço para nós. Com isto não estou a dizer que escolhemos quem amamos, mas podemos escolher não lutar por quem não luta por nós, não esperar porque quem não tem tempo para nos dar, não sonhar com quem não sonha connosco. A reciprocidade é um dos ingredientes fundamentais do amor verdadeiro, sem ela, nada feito.
Eu gosto de saborear o amor em estado puro. O amor de forma plena, livre, leve e ao mesmo tempo serena e responsável. Acredito que amar alguém é querer o melhor para essa pessoa, por isso amar é ouvir, ajudar, apoiar, proteger, mimar. Mas também é pedir ajuda e protecção sempre que precisarmos. Gosto de pensar que o amor que estou a construir é como uma terceira entidade, a mistura alquímica de dois corações que procuram e querem percorrer o mesmo caminho. E que juntos, vamos conseguir ir mais longe dentro e fora de nós mesmos. Juntos, vamos sentir mais paz, mais protecção, mais força, mais coragem. Mas para isso é preciso acreditar no outro, confiar nele, mostrar-lhe que contamos com ele para o que der e vier da mesma forma que que ele pode contar connosco. Acredito que o amor em estado puro só existe com confiança e entrega totais. É difícil, mas se fosse fácil, também perdia metade de graça. E quem não ama deste modo, não ama livremente. Só a liberdade de espírito permite um amor pleno." 


Margarida Rebelo Pinto

1 comentário:

  1. "Ainda que o nosso corpo e o nosso coração nos empurrem para alguém, só devemos deixar que isso aconteça se o outro mostrar o mesmo impulso em relação a nós." isto a mim mata-me, tenho um medo que me pelo. E como se fosse possível dizermos ao corpo e ao coração para parar!quem me dera.

    ResponderEliminar